“Sorstalanság” (“Sem destino”) de Imre Kertész

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O Mito Duplo leu “Sorstalanság” (“Sem destino”), uma obra do escritor húngaro Imre Kertész, galardoado com o prémio Nobel da literatura, recentemente falecido.

Imre Kertész (pronunciando-se, aproximadamente, “Imré Quér-têss”) era judeu e sofreu na pele os horrores dos campos de concentração nazis. Foi aprisionado em Auschwitz, Buchenwald e Zeitz.

O livro “Sorstalanság” (“Sem destino”), de 1975, é fruto dessa experiência aterradora. O narrador participante vai contando na primeira pessoa o que lhe vai acontencendo, desde a partida do pai para um campo de trabalho até à sua própria partida e passagem por vários campos de concentração. É impressionante a forma como as várias etapas são descritas. O transporte em comboios de mercadorias apinhados e sem quaisquer condições de higiene, os exames médicos dos recém chegados desnudos, os banhos forçados coletivos, a desinfeção em banheiras já utilizadas por milhares de prisioneiros anteriores, o
fumo dos crematórios, as ruas muito organizadas dos campos de concentração com canteiros, a comida cada vez escassa, a dúvida sobre o que era de facto ser judeu, o trabalho forçado, a doença, o emagrecimento, a hospitalização, a perda quase da consciência, as múltiplas línguas, a animosidade dos eslovacos para com os húngaros antigos ocupantes, os números de série dos campos de concentração, as letras nas fardas identificando o país de origem de cada um dos prisioneiros e, de forma quase constante, a resignação são as imagens que o autor nos vai transmitindo. A personagem principal parece quase sempre resignada e disposta a ir passando pelo martírio a que foi sujeita. É um rapaz de 14 anos, que vive em Budapeste, num prédio muito parecido com os que lá se podem visitar ainda hoje, de tetos altos, escadas largas e pátio com varandas interiores.

“Sorstalanság” é um livro marcante. Um relato que só quem passou pelos campos de concentração nazis poderia escrever, dada a minúcia e a familiaridade com que todos os pormenores são descritos. Um livro recomendado pelo Mito Duplo. Uma lição de vida, com uma mensagem de esperança.

 

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2 Comentários Add yours

  1. Eu gostei muito deste livro e impressionou-me o quase distanciamento com que por vezes era escrito. Como se fosse uma “fatalidade” e não uma coisa errada que se estivesse a passar. Como diz acima, claramente um relato escrito por quem experienciou na pele a situação e não uma descrição na terceira pessoa.

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    1. vindalho diz:

      Peixinho de Prata, concordo completamente. Também me impressionou muito essa sensação de fatalidade, de inevitabilidade, que acompanhava a personagem principal. Parecia quase normal ser-se apanhado naquela máquina assassina cruel e não havia nada a fazer a não ser aceitar, resignar-se e ir vivendo um dia de cada vez.

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